Viver sem ler é perigoso.

As séries de O Nome do Vento e O Senhor dos Anéis vêm aí – por que ninguém está comemorando?


Sim, eu sei que a discussão em torno desse assunto diminuiu bastante. Sei que eu estou agindo como o Rubinho Barrichello também. Mas deem um desconto. Escrevi o texto à época da polêmica, e só agora consegui respirar o suficiente pra conseguir postar.

Antes de iniciar essa postagem, quero deixar bem claro aqui que nunca li a trilogia O Senhor dos Anéis, embora já tenha lido obras mais lights de Tolkien (como O Hobbit e Mestre Gil de Ham). Entretanto, isso não me impede de ter assistido (muitas e muitas vezes) a adaptação cinematográfica que ganhou merecidamente tantos Oscar.
Agora que esclarecemos esse fato, podemos prosseguir com o post.
Recentemente foi anunciado que a Netflix e a Amazon Prime Video estavam disputando para ver quem conseguiria os direitos de produzir uma série inspirada na obra de Tolkien, porém focada em tramas que não foram exploradas pelos filmes que conhecemos, sendo que a Amazon saiu como vencedora. Antes (muito antes mesmo, tipo lá em 2015) já haviam anunciado que teríamos uma série e um filme baseados em O Nome do Vento. Além de ambas as obras serem obviamente do gênero fantástico, o que mais têm em comum?
Em nenhum dos casos os fãs comemoraram as boas novas (sim, houve comemorações, mas em comparação com as reclamações foram pouquíssimas).


Como eu me senti quando compartilhei as notícias nas redes sociais.


Certo, não serei tão rígida. Eu estou beeeem ciente de que a criação de uma adaptação de algo que a gente ama sempre nos deixará um pouquinho temerosos. Será que o protagonista vai ficar semelhante ao que imaginamos? Será que deixarão de fora aquela personagem que a gente ama? Será que aquela cena do livro não vai ser reproduzida por qualquer motivo que seja? Será que vão ser fiéis? São tantos “será” que a gente se sente um pouco desnorteado e a primeira reação natural é pensar um grande e sonoro “NÃO”. Desde quando se mexe em time que está ganhando?
O problema, entretanto, não é quando as pessoas recusam ou rejeitam uma adaptação pelo temor que possuem de ver aquilo que amam sendo estragado, seja em plataformas de streaming ou nos cinemas. Um exemplo prático e triste disso é As Aventuras do Caça-Feitiço (uma das primeiras resenhas do blog), que ganhou uma adaptação tão surreal e diferente dos livros que só de assistir o trailer, eu optei por não ver nem um minuto do filme em si. 
Outro exemplo que temos, porém muito menos estragado, é Game of Thrones. Eu mesma não escondo em minhas redes sociais o descontentamento que tive com o que a HBO fez nas últimas temporadas lançadas – inclusive não assisti o episódio final da sétima temporada até hoje. Todavia, embora os produtores tenham mudado muita coisa na série em relação aos livros, a essência d’As Crônicas de Gelo e Fogo continua ali, no plano de fundo da trama principal. 
Por isso eu compreendo o medo de tanta gente e o desânimo da maioria. Eu mesma não gostaria de ver fazerem com O Nome do Vento a mesma coisa que foi feita com As Aventuras do Caça-Feitiço... Porém, como eu disse antes, o problema não está no argumento do “não quero porque vão estragar”. Está em outro argumento:


“Não tornem minha saga favorita uma modinha”.

Isso é sério? Cada vez que eu leio essa frase em alguma postagem, tenho de checar o calendário pra confirmar se estamos mesmo no século XXI ou se eu não tive um momento Claire Beauchamp (desculpem a referência, estou viciada na série de Outlander) e voltei ao passado. Esse é o argumento mais triste que um leitor pode usar. Além de ser elitista, é também um egoísmo sem tamanho. Eu, e agradeço a Deus por isso, não consigo pensar assim.

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Toda vez que um leitor usa esse argumento, uma fadinha morre em algum lugar.


Primeiro que em relação a O Senhor dos Anéis, nem há o que falar. Os filmes já foram produzidos e o tempo todo a trilogia está sendo comentada e relembrada em todos os meios de comunicação possíveis. Tolkien, assim como sua obra, é atemporal. O que haveria de tão ruim em O Senhor dos Anéis se tornar ainda mais conhecido do que já é, se é que isso é possível?
Agora em relação a O Nome do Vento... Gente, oi? Quantos produtos de O Nome do Vento você encontra por aí para consumir, sem que precise encomendar personalizado? Quantas camisas? Até agora, aqui no Brasil, a única loja que eu conheço a fazer isso é a Fenrir. Ademais, você não gostaria de uma enciclopédia dos Quatro Cantos da Civilização como O Mundo de Gelo e Fogo? Jogos inspirados na saga de Kvothe? Uma linha Pop! da Funko? Mais produtos de modo geral pra quem gosta tanto dessa saga? Eventos bacanas Brasil adentro? Porque é isso que uma série de sucesso trouxe para As Crônicas de Gelo e Fogo. Ou você acha que a saga de Martin teria tanto material se possuísse um grupo seleto de leitores, como acontece com O Nome do Vento, que a grande maioria do público não-leitor sequer ouviu falar ao menos uma vez na vida?

Game of Thrones ganhou uma linha Pop! na Funko apenas em setembro de 2012, quase seis meses depois da estreia da primeira temporada. Se não fosse a série, você acha que teríamos tantas linhas como hoje em dia?

Pois é. Uma série de O Nome do Vento não só traria uma variedade de “regalias” aos fãs da obra que eu amaria ter, como também atrairia um novo público que talvez ficasse mais inclinado a ler as obras e tornar a leitura um hábito. E eu não sei vocês, mas acho isso fantástico. Não consigo ser fã de algo e querê-lo só pra mim. Quanto mais pessoas conhecerem e se tornarem fãs, como eu, melhor. Não à toa faço o maior estardalhaço com os leitores do Me Livrando quando comentam que começaram a ler Rothfuss por conta dos posts do blog – quando a primeira pessoa disse que se tornou fã de algo que eu sou fã por causa do que eu escrevo aqui, todo o trabalho que tive com o Me Livrando valeu a pena!
Enfim, infelizmente aqui eu mesma respondo a pergunta do título: por que ninguém está comemorando? Bem, porque fora aquelas pessoas com bons argumentos e temores justificados, há aquele grupinho que não quer que ninguém toque nos livros, caso contrário virarão modinhas (se bem que, se considerarmos que modinha é tudo aquilo que é difundido, conhecido e divulgado por todos os tipos de público na internet, O Senhor dos Anéis é modinha desde o sucesso dos filmes). Ou seja, quem não está comemorando por “medo” de ver uma nova modinha se consagrar na internet prefere ver sua obra do jeito que está, e não quer compartilhá-la com mais ninguém, muito menos com “posers” (nossa, como eu odeio essa palavra). O que, na minha opinião, é um raciocínio sem qualquer sentido. A gente deveria era estar pulando de felicidade, especialmente os leitores de Rothfuss, diante da perspectiva de ver nossa obra favorita ganhar mais espaço na mídia e no coração de tantas pessoas.
E, por fim, aqui vai meu último recado: quer coisa mais modinha do que sair por aí dizendo que tudo nessa vida é modinha? :p

 

Falando um pouco sobre a adaptação de O Nome do Vento, o Jovem Nerd anunciou um dia desses que a série finalmente vai sair do papel. Mas não, não trouxe nada muito concreto além de confirmar que o produtor executivo será Lin-Manuel Miranda e que a Showtime (Twin Peaks de 2017, The Tudors, Penny Dreadful, Dexter) irá produzir a série.

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