Viver sem ler é perigoso.

Um novo começo

 


Ontem foi oficialmente o dia da nostalgia. Descobri por acaso, lá no Twitter/X, que era possível recuperar fotos do Orkut se você fizesse login no Google Drive ou Google Fotos utilizando o mesmo e-mail e senha daquela época. Como num passe de mágica, eu recordei não só o e-mail, mas também a senha que a Celly de 10 anos usava. Quais as chances?

Bem, funcionou. Repentinamente me vi com acesso não apenas a fotos, mas a milhares de outras memórias. Vi os vários blogs que criei, sendo uma criança com muito a falar e poucos com quem conversar. É engraçado me deparar com os textos que escrevi naquela época. Eu, cheia de personalidade, questionamentos e reflexões. Hoje, aos vinte e oito anos, leio o que escrevi com lágrimas nos olhos. Eu amo aquela Celly. Por Deus, como ela era incrível - e ainda assim se sentia tão diminuta e sofria tanto naquela cabecinha com preocupações tão mundanas e irrelevantes...

Uma das memórias mais lindas, e que eu não me recordava, é algo que me faz gargalhar em pensamento. Encontrei um blog esquecido em que eu costumava postar trechos de pretensos livros que escrevia. Aos doze anos, ostentando uma arrogância que só crianças nessa faixa etária conseguem ter, eu alertava: não cometa plágio do meu capítulo, pois ele foi registrado na Biblioteca Nacional. Realmente acreditei que em algum momento as pessoas tomariam isso como verdade?! Bem, acho que sim. Aqui está a prova.


Por muito tempo, tendo o Instagram como rede social principal do Me Livrando, eu me questionei porque não conseguia me conectar com as gerações mais novas. Até tentei entrar no Tiktok, que também está em alta, mas não funciona. Eu não tenho a vontade e a necessidade de estar constantemente online compartilhando cada passinho que eu dou. Essa presença constante tornou-se meio que uma imposição para quem gosta de "criar conteúdo" (afinal, agora somos todos content creators, depois de sermos influencers). Nunca entendi a dificuldade em fazer parte desse universo.

Reviver todo o meu passado, conhecer a Celly tão novinha de quem eu não tinha a maioria das lembranças que recuperei, finalmente me fizeram compreender o que está acontecendo. Minha principal forma de comunicação sempre foi e sempre será aquela que hoje em dia se vê tão desprezada: escrever. Tenho facilidade em sorrir para a câmera e falar sobre qualquer assunto, mas a realidade é que sou introspectiva. E o meu lar sempre foi aqui, escrevendo e conversando sozinha, e quem sabe sendo lida por pessoas aleatórias que tinham algo a dizer e com quem eu trocava visitas em seus próprios blogs.

Acho que o grande problema da minha geração é tentar se encaixar. Temos preocupações com o passado, pensando sempre no que nossos pais conquistaram quando na nossa idade; mas também temos preocupações com o futuro, mais especificamente com as gerações posteriores, tentando nos sentir parte de um mundo que não é nosso. Vivemos num limbo eterno, sempre nos questionando, sempre cercados de incertezas, porque fomos criados pensando que conquistaríamos o mundo se nos dedicássemos aos estudos e faculdade - e então nos deparamos com a atualidade, em que crianças conquistam o universo inteiro antes de terminar o ensino fundamental. Definitivamente foi esse contraste que tirou tanto do meu brilho, e talvez tenha tirado o seu também, querido E'lir*, se você faz parte da minha geração.

Aquela Celly irreverente que reencontrei, que deixou sua marca na blogosfera falando suas verdades de forma tão impetuosa, ainda está aqui dentro. Sabendo menos sobre HTML do que naquela época, e talvez usando menos gifs do que gostaria, mas ela permanece por aqui. O que estava faltando era uma fagulha - uma mera fagulha capaz de despertar todas as lembranças em forma de cascata, que me permitiram resgatar quem eu fui e quem eu sou.

Essa aqui foi uma das mais inesperadas surpresas. Eu não tinha ideia de que minha coleção de livros havia começado assim. Mas aqui está uma foto da minha estante aos 12 anos de idade. Obrigada por esse registro, Celly criança!

Ah, como é maravilhosa a sensação de voltar a escrever! Como é incrível não me preocupar com roteiro, com edição e legenda, com música de fundo, com gatilhos, com imagens, com cortes, com efeitos sonoros e transições... Uma aba do Blogger aberta, um quadrado em branco e palavras preenchendo a tela. Só isso - e ao mesmo tempo, tudo isso.

Eu falei muito e ao mesmo tempo sinto que não falei nada, mas lembro que era essa a sensação quando eu permitia que as palavras fluíssem de mim. E eu ficava - e estou - satisfeita. E exatamente como a Celly de 10 anos dizia ao terminar uma postagem:

Câmbio, desligo.

*E'lir é uma categoria categoria de estudantes na Universidade dentro do universo de A Crônica do Matador do Rei, minha saga favorita da vida inteira. É também a forma como o pequeno Kvothe, o protagonista, é chamado por seu primeiro mentor. 


Você também pode gostar:

0 comments

Deixe aqui sua opinião!