O dia em que finalmente li um romance de época
Sim, chegou o dia em que finalmente li um romance de época.
Antes de qualquer coisa, você precisa saber que eu jamais imaginei que um dia estaria aqui escrevendo esse post. Minha aversão a romances de época era completa, e até meio boba, como a criança que se recusa terminantemente a fazer o que lhe é mandado apenas por birra. Meu nariz torcia à simples menção de autores como Nicholas Sparks (que sim, sei que não é autor de romances históricos), Julia Quinn e Loretta Chase. Eu era o estereótipo da leitora de aventura e fantasia babaca que acha que romances são histórias doces e melosas demais, que fariam qualquer um com bom senso vomitar.
Ah, como eu estava errada...
Para começar, não fosse esse post do Bookworm Scientist (Vale a pena ler Julia Quinn?), eu provavelmente jamais teria tocado as mãos em qualquer livro do gênero. Na verdade, continuaria passando reto e ignorando a existência desse tipo de obra, evitando as discussões e desacreditando em cada opinião favorável que lesse. Então eu li a Fernanda falando sobre Julia Quinn de modo tão apaixonado que fiquei com a pulga atrás da orelha. Como essa pessoa, que parece gostar de livros semelhantes aos que eu gosto – com muito sangue, espada e fantasia – pôde cair nas graças de livros como os da Quinn? Será que eles de fato eram tão bons? Desafiei-me a tentar ler um.
Primeira coisa que fiz foi pedir uma dica. Despretensiosamente, perguntei a uma pessoa da Editora Arqueiro se ela podia me indicar uma leitura do gênero que fosse tranquila para iniciantes. A sugestão veio: Quando A Bela Domou A Fera. Achei o título estranho, mas pensei que seria um bom lugar por onde começar. Especialmente porque fazia uma forte alusão ao meu desenho clássico da Disney favorito. Ok, pensei. Vamos lá. Pedi um exemplar na cota permitida mensalmente aos parceiros da editora.
O livro chegou. Entre os inúmeros títulos que vieram para o meu endereço nesse mês, eu poderia ter escolhido qualquer um que estivesse dentro do meu nicho para começar a ler. Porém, quem me conhece sabe o quanto eu não vacilo diante de desafios, tendo uma inclinação teimosa a prosseguir até o fim quando sou desafiada. Como eu mesma era a propositora desse desafio, isso tornava as coisas ainda mais delicadas. Não podia voltar atrás agora e não ler. Então comecei.
O livro chegou. Entre os inúmeros títulos que vieram para o meu endereço nesse mês, eu poderia ter escolhido qualquer um que estivesse dentro do meu nicho para começar a ler. Porém, quem me conhece sabe o quanto eu não vacilo diante de desafios, tendo uma inclinação teimosa a prosseguir até o fim quando sou desafiada. Como eu mesma era a propositora desse desafio, isso tornava as coisas ainda mais delicadas. Não podia voltar atrás agora e não ler. Então comecei.
Por que vou fazer isso? Meu Deus, o que deu em mim? |
A verdade é: o invólucro que me envolvia e me manteve afastada de romances de época esse tempo todo foi se quebrando de pouquinho em pouquinho, conforme as páginas passavam. Fiquei tão envolvida que li a história em dois dias e me senti extremamente arrasada quando cheguei ao final e não tinha uma continuação com a qual pudesse me deliciar. Apesar de não ter gostado de alguns momentos, especialmente quando o Piers gritava com Linnet e fazia com que se sentisse uma estúpida, de modo geral foi uma experiência muito satisfatória. Também serviu para que eu aprendesse que preconceitos bobos não levam a nada, e que a única pessoa que sai perdendo quando insiste em tê-los é você mesmo.
Quanto à história em si, temos como protagonistas Linnet e Piers. Linnet é uma garota de Londres, filha de visconde, que se vê em meio a uma fofoca generalizada envolvendo uma suposta gravidez, cujo pai seria o príncipe. A moça, tendo recentemente debutado, é descrita como a Afrodite em pessoa, dona de uma personalidade forte e bem similar à falecida mãe. O que, é claro, não é bom, dada a fama que a mãe de Linnet possuía e às suas conhecidas escapadelas da cama do marido durante a noite. Em resumo, a garota está com a reputação totalmente arruinada, tão arruinada que todos a evitam e ninguém tem interesse em pedir sua mão. Quem, afinal, gostaria de casar com uma grávida solteira?, era o que pensavam. Linnet de fato estava solteira – porém nunca esteve grávida. É o que tenta explicar a todo momento. Quando finalmente consegue convencer o pai e a tia de que está falando a verdade, as coisas mudam de figura, pois os dois traçam um plano em que será necessário que a jovem fique, de fato, grávida, sendo o único meio que encontraram de casá-la com alguém importante.
Piers é o conde de Marchant, filho de um duque, que vive num castelo em Gales, onde estabeleceu uma espécie de hospital e exerce a profissão de médico – um dos mais famosos da época. Pensou em Piers, pensou no Dr. House. Ambos têm exatamente a mesma personalidade mordaz, fazem os mesmos comentários ácidos e possuem até a mesma “deficiência” na perna, que os obriga a estarem constantemente mancando. Piers, porém, tem um agravante: não pode ter filhos. É por isso que uma moça grávida, especialmente grávida do príncipe, lhe parece tão perfeita – pelo menos o seu pai pensa assim, e é ele quem arranja o casamento.
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House não parece ser exatamente o marido perfeito... Nem Piers. |
– Acho que talvez você não tenha percebido que sua noiva entrou na sala.
– Boa noite, noiva.
– Belzebu – cumprimentou ela, inclinando a cabeça.
O enredo como um todo é bastante previsível. Segue até mesmo o “esqueleto” da trama de A Bela e a Fera: os personagens se odeiam num primeiro instante, mal suportando a presença um do outro, e é bem aos pouquinhos que começam a se entender. Não gostei de alguns momentos de discussão entre os dois, em que Piers agiu de modo muito grosseiro, mas ele não seria conhecido como A Fera se não fosse assim. Senti pena de Linnet em muitos momentos, mas também a admirei por se recusar a ser o que esperavam que fosse. O livro teve uma ou duas cenas de sexo, o que imagino ser comum em obras do gênero, e as achei bem escritas. A narração, bastante fluida, alternava o ponto de vista dos protagonistas. Uma gama de personagens secundários interessantes foi apresentada. Todos, sem exceção, me cativaram bastante. Aliás, foi algo que me surpreendeu: é bem fácil me deparar com personagens coadjuvantes em livros de fantasia que são tão descartáveis que nem fazia diferença estarem ali ou não. Em Quando a Bela Domou a Fera foi muito diferente: cada secundário teve sua importância para a trama e faria falta se não estivesse ali.
Seus olhos se encontraram de um jeito que tinha tudo a ver com amor, do tipo forte o bastante para fazer alguém voltar da cova, do tipo que nunca desvanece e nunca falha.
Talvez para o fã de fantasia épica e aventura seja um pouco difícil se ater a este gênero. Aqui não temos tanta ação, é mais um joguinho de conquista entre dois personagens. Entretanto, se você pensa que essa descrição não soa nada interessante, peço que não descarte tão de pronto a leitura de algum livro similar. Fiquei com frio na barriga em certos momentos, e me senti totalmente envolvida em outros. Uma leitura despretensiosa; a primeira que, em muito tempo, não demandou atenção a detalhes mínimos para que eu não me sentisse perdida na história. É o tipo de livro que você pega uma xícara de café, se enrola no cobertor e só lê quando termina, sem precisar voltar páginas para pegar algo que deixou passar e se mostrou crucial no capítulo seguinte.
Há outras coisas aqui sobre as quais eu deveria falar, como por exemplo atitudes tomadas pela Linnet que me faziam revirar os olhos, bem como umas cenas nada legais em que ela se humilhava perante Piers. Aliás, consegui gostar dele apenas no final, pois a relação entre os dois se mostrou bem problemática e o modo como ele a tratava incomodou bastante. O que importa é: tudo ficou bem ao chegar ao fim, porque certamente é assim que um romance de época deve ser. Depois de me ler livros de fantasia épica em que metade dos personagens morre, enquanto aquele que você ama morre de maneira particularmente dolorosa, ler um final tranquilo como o desse livro foi como respirar ar puro após uma quase-sufocação causada pela fumaça de chamas. Ah, a analogia foi péssima, mas você entendeu.
Meu veredito final é que eu gostei muito de ter dado uma chance a um gênero que sempre descartei por pura arrogância. À época eu não sabia o quanto estava sendo boba, mas hoje reconheço e me sinto meio decepcionada comigo mesma. Eu, que sempre defendi mais união entre os leitores de fantasia épica e aventura, de repente ignorei esse conselho no tocante aos leitores como um todo. Tem lugar para todo mundo – e você pode caber em qualquer lugar.
Título da Série: Contos de Fada
Título do Livro: Quando A Bela Domou A Fera (#1)
Título do Livro: Quando A Bela Domou A Fera (#1)
Autor: Eloisa James
Tradução: Thalita Uba
Tradução: Thalita Uba
Editora: Arqueiro
Páginas: 320
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