Viver sem ler é perigoso.

Meu Amigo Dahmer – A adolescência de um assassino em série (+ sorteio!)


Este mês a DarkSide Books completa cinco anos de existência. Em homenagem a essa editora, que me permitiu apostar no escuro ao mesmo tempo em que apostou em mim nos últimos três anos, trarei no decorrer desta semana resenhas de títulos relacionados a serial killers do catálogo da Caveirinha. É um tema que tanto me chama a atenção que será utilizado em meu TCC, pelo que serei eternamente grata à DarkSide. Embora meu interesse pelo assunto tenha começado há mais de uma década, foi apenas depois de ler Anatomia do Mal que ele de fato se consolidou.
Ah, e como não poderia deixar de ser, descolei um sorteio pra vocês desse mesmo exemplar que estou resenhando agora: Meu Amigo Dahmer, a ser enviado diretamente da sede da Caveirinha. Se você quer concorrer, basta preencher este formulário aqui. Não perca essa oportunidade lindona não, pois de uma coisa tenho certeza: se você ganhar, essa será uma das leituras mais marcantes da sua vida.

As regras são simples: 1. Preencha este formulário; 2. Comente nessa postagem aqui do blog, que você está lendo agora. Fazendo essas duas coisas você já está concorrendo. Porém, se compartilhar esta postagem em modo público no Facebook, você ganhará mais um número no sorteio, e se marcar dois amigos neste mesmo post, ganhará outro número.

Me perguntam muito por que nunca falei nada. Por que não tentei conseguir ajuda pro Dahmer. Vale lembrar que era 1976. Você nunca era “dedo-duro”. Era uma coisa que simplesmente não se fazia. Além disso, eu e os meus amigos éramos uma molecada sem noção numa cidadezinha, enfurnados em nossas vidas. E nenhum de nós tinha noção do que se passava de verdade na cabeça dele. A melhor pergunta é... Onde estava a porra dos adultos nessas horas?

Se você buscar por Jeffrey Dahmer no Google encontrará todo o tipo de compilados sobre seus crimes, e também algumas análises sobre sua personalidade/infância/o que o levou a se tornar o assassino em série que conhecemos. Claro que todas essas postagens virão com uma boa dose de emoção, porque dificilmente conseguimos desvencilhar nossa opinião quando nos deparamos com crimes tão bárbaros. Você raramente encontrará um texto na internet que não o descreva como monstro – o que é compreensível, mas totalmente equivocado. O que a gente precisa entender é que assassinos em série, bem como estupradores e seus similares, não são monstros: eles são humanos, homens e mulheres muito reais, e compará-los às monstruosidades da fantasia nos dá a falsa impressão de que nunca poderiam existir em nosso cotidiano. Estamos tão errados...
É sobre isso, aliás, que trata a história de Meu Amigo Dahmer. Assassino em série? Sim. Mas diferente do que pode parecer, ele também foi uma pessoa normal: nasceu do ventre de uma mulher, cresceu, tornou-se adolescente, adulto e assim por diante. De fato inescrupuloso, mas tão real quanto o seu vizinho. As atitudes e atos que cometeu podem até aproximá-lo da bestialidade, mas de modo algum o afastam da humanidade com a qual nasceu. Entender isso é essencial para que compreendamos que existem muitos outros Dahmer por aí, e que nada impede que você mesmo esteja convivendo com um sem saber.



Em Meu Amigo Dahmer acompanhamos toda a trajetória do serial killer tanto quanto o autor, Derf Backderf, pôde acompanhar. Entramos um pouquinho no cotidiano de uma das mentes mais cruéis que já esteve em atividade durante a curta existência da humanidade, e compreendemos o quanto ele está distante de ser a aberração monstruosa que muitos divulgam por aí. Jeffrey teve uma infância conturbada e uma adolescência tomada por vícios. Ainda jovem, foi abandonado afetiva e literalmente por ambos os pais, e mesmo que morassem juntos, sua mãe tornava-se ausente em meio aos próprios vícios e acessos epiléticos. Embora o passado negro não seja regra para a formação de um serial killer, ele geralmente está presente na maioria deles, e não foi diferente com Dahmer. 
A história começou a ser escrita por Backderf em 1994, depois que Dahmer foi assassinado na cadeia no dia 28 de novembro. A primeira publicação de Meu Amigo Dahmer contava apenas oito páginas, que depois foram expandidas para vinte e quatro. Porém, tendo em vista todo o material que Backderf possuía e sua necessidade de contar a todo mundo a história na íntegra, logo essa versão da DarkSide Books foi produzida. Os traços são do próprio autor e as páginas são em preto e branco mesmo. Não vou me ater ao desenho em si, apenas dizer que ainda que eu não tenha gostado dos traços, eles contam direitinho tudo o que deveriam contar.

A edição da DarkSide Books conta com as oito páginas originais de O Jovem Jeffrey Dahmer traduzidas.

Enfim. Quem foi Jeffrey Dahmer? Basicamente um garoto normal, com uma mãe, um pai e um irmão (esses dois não aparecem tanto no quadrinho, já que Backderf pouco os via e Jeff não falava muito deles durante a fase da adolescência). Tirando o interesse mórbido que Jeff possuía em dissecar animais mortos, ele foi um garoto introspectivo, mas tão normal quanto poderia ser. Na verdade, podia soar até desinteressante: não fossem os assassinatos em série que cometeu, praticamente ninguém recordaria de sua passagem pelo colegial – nem os professores, nem os colegas de classe. Tocava clarinete, tentava desesperadamente enturmar-se com outras pessoas de sua idade e tinha aquela curiosidade mórbida por dissecação, porém até então inofensiva (já que se contentava com animais mortos).
Em algum momento, porém, as coisas desandaram. Coincidiram com os conflitos no casamento dos pais de Jeff, cujas brigas começaram a ficar mais frequentes e tensas. A partir daí, a gente se vê diante de um adolescente que passa a ser negligenciado por uma mãe que se entrega ao vício em remédios, e por um pai que decide sair de casa. De repente Jeff fica totalmente perdido e sozinho. Seus refúgios acabam sendo as piadas forçadas que faz na escola e o álcool, e conforme as brigas dentro de casa aumentam, maior a necessidade de Jeff em se refugiar.


“Meu Amigo Dahmer”, aliás, parece um título um tanto inapropriado, pois Backderf foi tudo para Dahmer, menos seu amigo. Backderf, junto com outros personagens do quadrinho – Mike, Kent e Neil – fundou o Fã-Clube Dahmer. O grupo nada mais era do que quatro amigos zoando uma quinta pessoa, no caso Jeff, sempre que ele fazia algo sem noção (como por exemplo imitar os acessos espasmódicos que sua mãe tinha em decorrência do consumo pesado de medicações). Os quatro incentivavam Jeff e faziam-no pensar que era a estrela do grupo, quando na realidade não passava de uma mascote engraçadinha. Mas se nem mesmo pessoas adultas são capazes de identificar um futuro assassino em série, quem dirá adolescentes cuja maior preocupação é se manter na média e não levar uma bronca dos pais. Mesmo que não tenham sido amigos de verdade de Jeff, não podemos culpá-los nem delegar a eles a responsabilidade de não ter identificado, tanto tempo atrás, o processo de transformação de menino estranho em notório e prolífico serial killer. Se teve alguém que falhou nesse papel, eu diria que foram principalmente os pais, que nunca estiveram dispostos a exercer essa função de fato com Jeffrey. Qualquer adulto que parasse para olhar para o garoto, mas olhar de verdade, ignorando a camada superficial de charme típica de um psicopata que Dahmer possuía, perceberia que havia algo errado ali dentro. O problema foi que ninguém fez isso (nem mesmo a polícia quando viu um garoto de quatorze anos nu e ensanguentado fugindo de Dahmer, sendo convencidos por ele de que tratava-se apenas de uma briga de casal - os restos mortais do adolescente foram identificados mais tarde na casa do assassino). 


Isso serve para que abramos nossos olhos. Jeffrey Dahmer está longe de ser uma vítima, óbvio, mas Meu Amigo Dahmer mostra pra gente o único lado que é sempre ignorado em um assassino em série: o humano. Assim quem sabe a gente para de pensar que serial killers só têm lugar em obras literárias, filmes consagrados e séries como Dexter e Mindhunter. E se ninguém pôde identificá-lo e pará-lo em sua fúria assassina, pelo menos sua história de vida serve de base pra compreendermos o quão longe a maldade humana pode chegar...
Enfim, Meu Amigo Dahmer é um quadrinho indispensável pra qualquer um que tenha interesse pelo assunto. Se você é um ávido leitor de livros similares, e gosta dos títulos da linha #DarkScene da DarkSide Books, eis aqui um quadrinho que você irá devorar. Torna-se mais fácil ainda lê-lo por conta do formato, e embora pareça um quadrinho volumoso, você verá que chegar às últimas páginas será mais rápido do que o esperado.

É uma história trágica, que duas décadas depois não perdeu nada da potência emocional que tem. Creio que Dahmer não precisava ter acabado como um monstro, que todas aquelas pessoas não deviam ter morrido horrivelmente, se os adultos que fizeram parte da vida dele não fossem tão inexplicável, incompreensível e imperdoavelmente sem noção e/ou indiferentes. Assim que ele mata uma pessoa, contudo – e não há como deixar isso mais claro –, termina a minha simpatia por Dahmer. Ele podia ter se entregado depois do primeiro homicídio. Podia ter botado uma arma na cabeça. Em vez disso, Dahmer, e só ele, decidiu tornar-se assassino em série e levar infelicidade a incontáveis pessoas. Há um número incrível de indivíduos que vê Jeffrey Dahmer como uma espécie de anti-herói, um garoto vítima de bullying, que contra-atacou a sociedade que o rejeitava. Isto é um absurdo. Dahmer era um infeliz, um ser problemático, cuja perversidade estava quase além da compreensão. Tenha pena, mas não empatia.

O quadrinho tem a qualidade DarkSide que amo. Capa dura com verniz localizado no título e uma lombada que traz o novo selo de graphic novels da DarkSide Books. A folha de rosto traz rascunhos do próprio autor, com os balões de fala ainda em inglês. No final do quadrinho há uma série de material extra sobre Jeffrey, com cada uma das páginas do quadrinho sendo comentada mais detalhadamente quanto à sua veracidade. Há também cenas deletadas com suas respectivas explicações, incluindo a razão de terem sido deixadas de fora.
Confira mais fotos do exemplar:














É claro, dizer que todos nós temos um lado sombrio que se deleita com fantasias anárquicas não significa que todo mundo é um serial killer em potencial. Há um mundo de diferença entre pensamento e ação, entre sonhar e fazer. Na verdade, uma das características distintivas dos serial killers é precisamente a disposição de cruzar essa linha e transformar suas fantasias distorcidas em apavorante realidade. Platão ressaltou esse fato há milhares de anos atrás, quando escreveu: “Os bons homens se limitam a sonhar aquilo que os maus praticam.” (Trecho retirado de Seria Killers – Anatomia do Mal)

MEU AMIGO DAHMER, HQ da DarkSide Books
  Título da Graphic Novel: Meu Amigo Dahmer (My Friend Dahmer)
  Autor/Ilustrador: Derf Backderf
  Editora/Tradução: DarkSide Books/Érico Assis
  Páginas: 288
  Onde Comprar: Amazon || Submarino || Saraiva
  Livro cedido em parceria com a editora. 




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