Resenha || O chamado de um monstro e a perda da inocência para a realidade
Título do Livro: Sete Minutos Depois da Meia-Noite
Autor: Patrick Ness
Editora/Tradução: Novo Conceito/Paulo Polzonoff Junior
Páginas: 160
Ano de Publicação: 2016
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Livro cedido em parceria com a editora.
Livro cedido em parceria com a editora.
Sinopse “Conor é um garoto de 13 anos e está com muitos problemas na vida.
A mãe dele está muito doente, passando por tratamentos rigorosos. Os colegas da escola agem como se ele fosse invisível, exceto por Harry e seus amigos que o provocam diariamente. A avó de Conor, que não é como as outras avós, está chegando para uma longa estadia. E, além do pesadelo terrível que o faz acordar em desespero todas as noites, às 00h07 ele recebe a visita de um monstro que conta histórias sem sentido.
O monstro vive na Terra há muito tempo, é grandioso e selvagem, mas Conor não teme a aparência dele. Na verdade, ele teme o que o monstro quer, uma coisa muito frágil e perigosa. O monstro quer a VERDADE.
Baseado na ideia de Siobhan Dowd, Sete minutos depois da meia-noite é um livro em que fantasia e realidade se misturam. Ele nos fala dos sentimentos de perda, medo e solidão e também da coragem e da compaixão necessárias para ultrapassá-los.”
Sete Minutos Depois da Meia-Noite, pelo menos na edição que li, foi lançado em 2016 pela Editora Novo Conceito, tendo em vista a estreia da adaptação da obra. Um livro bem curtinho, do tipo que você consegue ler em um dia ou menos, e totalmente envolvente.
Patrick Ness, autor do livro, avisa já no prefácio que sua obra foi inspirada pela ideia original de Siobhan Dowd, uma escritora inglesa cujas poucas obras publicadas foram suficientes para marcá-la como um grande nome da literatura do Reino Unido.
A obra conta a história de Conor O'Malley, um garoto que se vê obrigado a amadurecer rápido demais em razão da doença da mãe. Doença esta que, quando lhe acometeu, mudou as coisas para Conor não apenas dentro de casa, mas também em todo o resto. Ele passa a ser obrigado a ver a mãe não melhorar com um tratamento que deveria curá-la, a suportar o peso da ausência constante do pai que já possui outra família, a lidar com a avó de quem não gosta, a ser traído pela única amiga, a ser perseguido por um trio de bullies no colégio, a ter um maldito pesadelo toda noite que lhe tira o fôlego e a vontade de viver.... Ufa. É muita coisa para uma criança, mas é o peso que Conor tem de suportar.
Até que uma coisa diferente surge: um monstro. Mas não o monstro do pesadelo, aquele que o aterroriza até o fundo da alma. Conor não teme essa criatura que surgiu, pois sabe que há coisa pior. E esse novo monstro é um teixo, mais precisamente o teixo que sua mãe adora e que os dois podem ver da janela da cozinha, o mesmo que repousa há tanto tempo no terreno da igreja. De repente, a árvore adquire vida e visita Conor, insistindo que o garoto o chamou. O monstro não irá embora até que cumpra sua missão.
— Tive tantos nomes quanto os anos do tempo! — rugiu o monstro. — Sou Herne, o Caçador! Sou Cernunnos! Sou o eterno Homem Verde! (...) Sou a coluna na qual as montanhas se apoiam! Sou as lágrimas que os rios choram! Sou os pulmões que sopram o vento! Sou o lobo que mata a lebre, o falcão que mata o rato, a aranha que mata a mosca! Sou a lebre, o rato e a mosca comidos! Sou a serpente do mundo devorando a própria cauda! Sou o tudo indomado e indomável! — O monstro aproximou Conor dos próprios olhos. — Sou a terra selvagem vindo atrás de você, Conor O'Malley.
— Tive tantos nomes quanto os anos do tempo! — rugiu o monstro. — Sou Herne, o Caçador! Sou Cernunnos! Sou o eterno Homem Verde! (...) Sou a coluna na qual as montanhas se apoiam! Sou as lágrimas que os rios choram! Sou os pulmões que sopram o vento! Sou o lobo que mata a lebre, o falcão que mata o rato, a aranha que mata a mosca! Sou a lebre, o rato e a mosca comidos! Sou a serpente do mundo devorando a própria cauda! Sou o tudo indomado e indomável! — O monstro aproximou Conor dos próprios olhos. — Sou a terra selvagem vindo atrás de você, Conor O'Malley.
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Título do capítulo 01 - O Chamado do Monstro |
Assim, durante muitos dias, o teixo dotado de vida aparece exatamente às 00h07min. Conor conta ansioso as horas e minutos para vê-lo. Enquanto todo o seu mundo desmorona, com a mãe indo de mal a pior, e se sentindo cada vez mais invisível e sozinho no colégio, a existência do monstro é a única certeza da vida à qual pode se agarrar. Mas e se for um sonho?
Sendo imaginação ou não, o monstro aparece. Ele conta três histórias, histórias que refletem de algum modo o momento em que Conor está vivendo. Então chega a vez de Conor contar a quarta história – que culmina na verdade que não quer aceitar, mas precisa dizer em voz alta.
— Você não escreve sua vida com palavras — explicou o monstro. — Você escreve com ações. O que você pensa não é tão importante. Só é importante o que você faz.
Aí o outro monstro, aquele do pesadelo, surge. Eu não posso ir muito além disso para não dar spoilers, mas é o que acontece. Enquanto o teixo esteve ali e contou suas três histórias, Conor se sentiu seguro. Mas então chegou a sua vez de contar a quarta história, e foi nesse exato momento que seu mundo desmoronou – e se acertou ao mesmo tempo.
— Você não escreve sua vida com palavras — explicou o monstro. — Você escreve com ações. O que você pensa não é tão importante. Só é importante o que você faz.
Daqui a vinte anos, as pessoas irão perguntar qual foi o livro que mais me marcou. Aquela obra com a qual fiquei tão profundamente envolvida que finalizar a leitura equivaleu a levar um soco no estômago e ter o coração arrancado à faca cega. O livro que me destroçou porque estabeleceu uma conexão tão íntima que jamais irei esquecê-lo.
Eu responderei: Sete Minutos Depois da Meia-Noite. Sem pestanejar.
Veja bem, o livro não é fantástico. Não tem uma escrita tão maravilhosa quanto a de Patrick Rothfuss, para mim, ou um worldbuilding invejável. Não possui personagens profundos, à exceção de Conor, ou todas aquelas outras coisas que geralmente apontamos em nossos livros favoritos. Mas ele tem uma mensagem.
Devorei as páginas em menos de 24h. Na última parte do livro, eu li com olhos marejados e um nó na garganta. Quando o livro acabou e me vi obrigada a fechá-lo, estava ali no quarto, sozinha, duas horas da manhã e todo um dia de trabalho pela frente. E então caí em lágrimas, chorei como não fazia há muito, e de repente pareceu que eu estava de volta ao dia 01 de janeiro de 2012, acariciando o rosto sem vida daquela que foi uma das pessoas que mais amei e amarei para todo o sempre.
Conversando com mais pessoas que leram o livro, vi que não fui a única a ser tocada dessa forma. Não fui a única a ser arrebatada pelas cenas descritas, pelo sentimento envolvido e pelo significado da jornada do monstro. As histórias que ele conta, que me fizeram voltar as páginas para reler uma a uma e entender cada entrelinha. Se eu pudesse discutir sobre essa obra com vocês sem dar spoilers, faria agora. Tanta coisa a ser dita...
Enfim... Não direi que você deve ler, nem tentarei convencê-lo a embarcar na leitura porque de repente um livro tão despretensioso se tornou meu favorito, apenas pela singular mensagem que traz. Não. Direi apenas que é uma obra boa, com uma mensagem delicada e que mostra uma criança vivendo o pesadelo que nenhum adulto gostaria de viver. É uma história sobre perder a inocência para a realidade nua e crua, e sobre ter de lidar cedo demais com todas as crueldades que a vida real possui.
— A resposta é que não importa o que você acha, porque sua mente vai se contradizer cem vezes a cada dia. (...) Sua mente vai acreditar em mentiras agradáveis e ao mesmo tempo vai reconhecer as verdades dolorosas que tornam essas mentiras necessárias. E sua mente vai puni-lo por acreditar nas duas coisas.
“Mas o que é um sonho, Conor O'Malley? Quem pode dizer que a vida real é que não é um sonho?”

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