Viver sem ler é perigoso.

Filosofando || As marcas que levo comigo

          
           o post de hoje será diferente. eu deveria estar estudando, mas não pude deixar de vir aqui digitar, entre um capítulo de direito administrativo e outro, a ideia que me veio à cabeça. e não, você não está lendo errado: não há nem um caps lock neste texto. letras maiúsculas são um pouco rudes diante da sutileza do que quero passar a você. dei-me a liberdade criativa de não utilizá-las.

          as marcas que levo comigo... é estranho imaginar que uma pessoa nova tenha tantas para levar. ao mesmo tempo, no entanto, é extremamente revoltante me deparar com alguns comentários sobre autobiografias de pessoas jovens: “o que ele(a) viveu que valha um livro?”... parece que a gente cresce e esquece. esquece que quando foi a nossa vez, muita coisa foi vivida e muitas lições, aprendidas. ninguém merece ter suas experiências diminuídas por conta da idade. apenas citando um exemplo: malala yousafzai, 18 anos, viveu muito mais do que você que tem quarenta e gosta de fazer comentários como o que citei acima.
          mas enfim, não desviemos o foco do texto. estou aqui para falar a vocês sobre as marcas que levo comigo... que refletem em meus livros favoritos. pois aqueles que mais amo, os que mais tocaram meu coração e deslumbraram minha alma, são os mais feios em minha estante. 


   


          páginas mais amareladas que o normal, amassados, marcas de uso. sim, meus livros favoritos têm tudo isso. parece contraditório, certo? mas há uma justificativa: eles estiveram comigo em todos os momentos possíveis. como eu falei logo acima, a vida costuma deixar marcas. no seu par de all stars favorito, na sua calça jeans mais querida... e por que não no livro que você ama? um bom exemplo disso, para mim, é as aventuras do caça-feitiço. eu estava lendo o primeiro livro, o aprendiz, à caminho da praia em uma viagem de família. sofremos um acidente que quase nos fez capotar. estava lendo e só soube o que aconteceu assim que o carro parou de girar na pista e minha cabeça explodiu de dor. antes disso, ainda sem entender muito bem, o livro foi a única coisa que consegui abraçar... até hoje, três anos depois, um dos amassados na capa persiste (pouco visível na foto porque a textura da capa o camufla).



          é engraçado como, quando crianças, a gente não se preocupa com as marcas que a vida deixa. uma mancha de sorvete, o molho do cachorro-quente que sujou aquela camisa branca novinha. os surtos deixamos com nossos pais. o que fazemos? somos arrastados ao banheiro, permitimos que esfreguem a mancha e esperamos ser liberados. se sair, tudo bem. se não, tudo bem também – e de volta às brincadeiras. experimente ir lanchar na faculdade e deixar que algo suje sua camisa branca nova hoje em dia. eu não serei hipócrita em dizer que não me importaria – céus, só penso que aquela mancha não sairá nunca! mas fico feliz em dizer que, pelo menos no que tange aos meus livros, eu mantive minha alma de criança.
          o ladrão de raios, o cavaleiro dos sete reinos, o nome do vento, harry potter e a pedra filosofal, percy jackson... todos já foram emprestados e devolvidos e estiveram comigo em todo tipo de situação, em todos os lugares. são livros usados e reusados ocasionalmente. que sentido faz você ter uma blusa favorita se nunca for vesti-la para que não suje, manche ou fique com aspecto de velha? que sentido faz eu comprar um livro, lê-lo pela primeira vez e me apaixonar, se não for para levá-lo comigo aonde eu for e ler mais um milhão de vezes e emprestá-lo outras cem por que sinto que todos deveriam conhecê-lo? se eu quiser uma blusa favorita com cara de nova, compro outra igual e deixo em exposição no guarda-roupa. se quiser um livro amado com cara de novo, é só adquirir a mesma edição e deixá-la intocada na estante. esses que são novos, no entanto, nunca terão o mesmo valor dos que me acompanham na vida.


 

          enfim... muitas pessoas são psicóticas com seus livros. embalam, limpam todos os dias, piram se veem uma mancha do que quer que seja. elas não estão erradas – mas eu também não estou. cada um tem seu modo de prezar pelo que lhe é querido. o que relatei no texto é o meu modo. o seu pode ser diferente – e eu adoraria saber se você estiver disposto a contar.
          as marcas que levo comigo... elas refletem em cada um de meus livros favoritos. e sempre será assim.








     

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