Viver sem ler é perigoso.

Motivos Para Ler (e Amar) #1: Joseph Delaney



     Se você, leitor, conhecesse os bastidores da blogosfera literária, veria que ao invés de apoiar uns aos outros, a maioria dos blogueiros quer apenas passar por cima e ser melhor/mais acessado. Uma competição ridícula que não leva a lugar algum... Felizmente, mesmo sendo nova nesse meio, conheci pessoas fantásticas com quem fiz amizade. Recentemente me reuni com algumas delas e montamos o nosso grupinho secreto. Agora estamos inaugurando nossa primeira blogagem coletiva, que provavelmente será mensal. Nesse post você conhecerá um dos meus autores favoritos: Joseph Delaney.



           Todos sabem que eu amo de paixão Patrick Rothfuss e fiquei muito tentada a fazer o primeiro post dessa coluna com uma homenagem a ele. No entanto decidi por outro autor favorito, que infelizmente é menos conhecido (ou associado à terrível adaptação O Sétimo Filho). No momento Joseph Delaney escreveu apenas livros da série As Aventuras do Caça-Feitiço, cujos primeiro e segundo livros já resenhei no blog. No mês de julho decidi reler todos os seus livros até o oitavo e posso dizer que a releitura teve uma utilidade: me fazer amá-lo ainda mais. Se você ainda não leu nada do Joseph, vou tentar convencê-lo com alguns motivos. Vamos lá?



MOTIVO O1: JOSEPH É ATENCIOSO COM OS FÃS


          Você percebe isso não só nas entrevistas que faz, mas nos relatos de quem conversou com ele: tenho vários amigos que o adicionaram no Facebook e bateram um papo bem legal com o vovô. Ele é tão gentil quanto aparenta ser. E também super preocupado com os fãs - a aldeia de Adlington aparece no livro O Segredo, assim como a alameda Babylon: para a gente não significa nada, mas para as crianças de uma escola que ele visitou em 2004, significou o cumprimento de uma promessa.
         Aliás, eu achei importante destacar esse motivo porque é uma coisa linda de se ver. Um exemplo que todos deveriam seguir. Desde que entrei no mundo literário, me deparei com autores nacionais e estrangeiros soberbos, de nariz empinado e se achando os donos do mundo. Geralmente são os mais novos, como autores de 15 anos, que talvez melhorem no futuro. Há alguns mais conhecidos que são amáveis em posts públicos nas redes sociais e eventos, mas que em contato mais particular deixam muito a desejar. Mas, felizmente, tenho meus autores parceiros. São todos incríveis e gentis.




MOTIVO O2: SUA NARRAÇÃO É FLUIDA E LÓGICA


          Sim, Joseph tem essa habilidade da fluidez. Sua narração não pesa, não exagera em detalhes e é extremamente agradável. Os livros que li até agora são em primeira pessoa, com tudo sendo narrado do ponto de vista do protagonista dos livros, Thomas J. Ward, o aprendiz do caça-feitiço John Gregory. Como as obras no geral são pequenas, tanto em dimensões quanto em número de páginas, você mal percebe quando o livro termina. Eu, por exemplo, levei dois/três dias, às vezes até um, para concluir a leitura de cada volume. Alguns diriam que é uma narração envolvente: eu acho que vai mais além, embora não encontre uma palavra certa para definir. Você não precisa confiar em mim logo de cara, mas sugiro que faça o teste e tente ler ao menos o primeiro capítulo de O Aprendiz.
          Sobre o aspecto da lógica, ele não é o único a me encantar nesse sentido: posso também citar como exemplos Darren Shan e Rick Riordan. Assim como Joseph Delaney, eles não fogem da realidade. Seus protagonistas são garotos de doze/treze anos criadas em ambientes comuns, de certa forma, então desconhecem muitas coisas, como é normal para crianças, e utilizam uma linguagem adequada à idade deles. É muito chato pegar um livro protagonizado por crianças, com narração em primeira pessoa, e vê-la dando explicações sobre fenômenos físicos e biológicos com palavras complexas e complicadas.
A viagem para o sul foi tranquila. Mas era estranho que, durante a maior parte do tempo, ninguém dissesse uma palavra. Eu tinha um monte de coisas para dizer a Alice, mas não quis mencioná-las na presença do barqueiro. Eu não queria falar sobre o ofício de caça-feitiço na frene dele e sabia que meu mestre teria concordado com isso. Era melhor guardar tais coisas para nós mesmos. (O Erro - Livro 5 - Capítulo 19: A Filha do Barqueiro)

MOTIVO O3: MANIQUEÍSMO EQUILIBRADO


          Como assim equilibrado? Bem, vou tentar me explicar. Os personagens de Delaney não são maniqueístas, embora seu universo o seja. Simples: Alice, Tom, Grimalkin, a mãe de Tom e até mesmo o Sr. Gregory são personagens essencialmente humanos (mesmo que alguns não o sejam de forma literal). Eles erram, acertam, fazem o errado pelo certo, às vezes se deixam levar pelas emoções e em outras têm de ir contra os próprios princípios visando um único objetivo. Ninguém é totalmente bom ou mau: longe disso. Para quem leu, Alice é o melhor exemplo do que estou afirmando.
          Em contrapartida, seu universo é maniqueísta. Há o Bem e o Mal que se confrontam e tentam subjugar um ao outro. O Mal é representado pelo Maligno em si, o próprio Diabo, e seus partidários; do lado do Bem temos Tom, o Sr. Gregory, Alice, entre outros - incluindo aí personagens que num primeiro momento foram perversos e detestáveis. Isso dificulta a tarefa de decidir se você gosta deles ou não... Bem semelhante à confusão que George R. R. Martin é capaz de provocar com seus personagens.
Alice: amá-la ou não?


MOTIVO O4: ELE POSSUI 17 LIVROS PUBLICADOS


          Espera... Mas lá no começo eu não disse que Joseph Delaney escreveu apenas sobre As Aventuras do Caça-Feitiço? Sim, eu disse! Então isso quer dizer que são dezessete livros desse universo. Treze fazem parte da série principal, enquanto quatro são spin-offs. Mas não se assuste! Relembrando o motivo 02, a narração dele é tão fluida que você lerá os oito já publicados aqui pela Bertrand Brasil mais rápido do que imagina. E ainda pedirá mais! Um dos spin-offs, O Bestiário (de 2010) será lançado em breve no Brasil e com capa dura, o que é lindo/maravilhoso/incrível. 
Alguns dos livros já lançado: no Brasil temos até o oitavo, O Destino.


MOTIVO O5: ELE SEMPRE SURPREENDE


          Eu não estou brincando, gente. Eu sempre começava a ler os livros imaginando que no final aconteceria uma coisa, para então me deparar com outra. Se você iniciar a leitura e achar que acontecerá B, pois saiba que no fim as coisas terão chegado em Z. Joseph dá todas as pistas necessárias para chegarmos justamente à conclusão falsa. Em outras palavras, pode-se dizer que ele é traiçoeiro. Não acredite no que ele disser ou indicar a você. Sabe aquele personagem amado e incrível? Pois é, ele já foi o pior de todos, o mais insano e enlouquecido. E aquele outro personagem de quem você aprendeu a gostar muito? Ah, se eu sentasse e pudesse contar um pouco sobre a família dele e suas intenções...
Você ainda não sabe, mas isso é um spoiler. De um personagem bem legal.


MOTIVO O6: A TRAMA NÃO É COMPLICADA





          Eis aqui um motivo perfeito para ler. Se você acabou de sair de uma leitura mais densa, como de As Crônicas de Gelo e Fogo, O Senhor dos Anéis, Malazan Book of the Fallen ou qualquer uma das séries do Bernard Conrwell, está na hora de descansar um pouco essa cabeça e mergulhar num livro mais despretensioso. Enquanto Martin desenvolve tramas políticas que confundem ele mesmo, Delaney passa longe desses labirintos complicados. Ele tem uma trama principal, que conecta tudo que acontece nos livros, e uma subtrama para cada volume. Eu acredito que se uma pessoa queira começar por qualquer um dos livros, não se confundirá muito. Claro que perderá algumas coisas, mas se tem algo que eu curto na narração do Tom é que ele retoma assuntos já explicados nos livros anteriores para situar o leitor. São explicações rápidas, sem muita enrolação, esclarecendo o que já aconteceu para aqueles que caem de paraquedas no meio da série. O TRECHO ABAIXO CONTÉM SPOILERS: trata-se de Tom retomando algo muito importante que aconteceu no livro anterior.
Próximo ao fim do verão, as feiticeiras de Pendle tinham convocado o Maligno ao nosso mundo. Ele era a encarnação das trevas: o próprio Diabo. Durante dois dias, ele ficara sob o controle delas e fora comandado para me destruir. Refugiei-me num quarto especial que mamãe havia preparado para mim, e isso foi que me salvou. (O Erro - Livro 5 - Capítulo 1: O Xelim do Rei)
           Ah, essa retomada dos fatos que o Tom faz também é ótima para quem não costuma ler os livros de uma série em sequência. Eu geralmente não faço isso também, abrindo exceção para Martin, mas mesmo tendo lido os oito livros no mês de julho, intercalei também com outras leituras. Essas explicações facilitaram minha vida.

MOTIVO O7: DELANEY DEIXA A IMAGINAÇÃO AGIR


          Ele não faz descrições detalhadas de ambientes ou personagens. Não: Delaney cita o básico, as características mais marcantes, e deixa o resto com a gente. Acho isso fantástico, pois se tem uma coisa que não gosto em Martin é o excesso de descrição de cada banquete, personagem, vestimenta e arma. Às vezes isso até me dificulta de formar uma imagem do personagem, sabe? Então, na minha opinião, quanto mais conciso, melhor.
Sua longa capa e capuz pretos faziam-no parecer um padre, mas, quando nos encarava, sua expressão carrancuda dava-lhe a aparência de um carrasco avaliando o peso do condenado para preparar a corda. (...) Os cabelos que saíam pela frente do capuz eram iguais à barba, grisalhos, mas as sobrancelhas eram negras e densas. Tinha também um bocado de pêlos saindo das narinas, e seus olhos eram verdes, da mesma cor que os meus. (O Aprendiz - Livro 1 - Capítulo 1: O Sétimo Filho)

MOTIVO O8: sua mitologia é fantástica


          Se você não sabe do que a trama trata, vou explicar de modo bem geral: é a história de um garoto, Thomas J. Ward, que nasceu com um propósito - livrar o mundo do mal. É o sétimo filho do sétimo filho e tenta cumprir com esse objetivo através do ofício de caça-feitiço, que aprende com o seu mestre e caça-feitiço atual do Condado, John Gregory. Mas o que significa exercer a profissão mais temida pelas pessoas comuns? Bem, é basicamente lidar com todas as trevas que acometem o mundo: ogros, feiticeiras malevolentes, bruxas, sugas-sangue, feiticeiras d'água, lâmias ferinas... Um caça-feitiço tem de estar preparado para lidar com cada uma dessas criaturas e muitas outras que sequer conseguimos imaginar. Delaney criou um método para lidar com elas no particular e outro que funciona de modo geral para todas - contato com prata, sal e ferro. O que fascina, no entanto, é o individual. É saber, por exemplo, que um ogro só pode ser amarrado e contido se atraírem-no para uma cova com as dimensões exatas, cujas paredes estejam uniformemente preenchidas pela mistura malcheirosa do sal, limalha de ferro e a cola especial feita com ossos para esse fim, além da laje de pedra que deverá fechar hermeticamente a cova. Você não entendeu? Relaxe: O Bestiário vem aí e você poderá entender. Ou então leia os livros.
Página retirada diretamente do Bestiário de John Gregory. Na imagem, uma subespécie de ogro: o taca-pedras.


          Bom, esses foram os motivos nos quais consegui pensar para convencê-lo a dar uma chance a este que é um dos meus autores favoritos. Eu poderia citar outras coisas, como por exemplo as edições normais da Bertrand Brasil cuja capa imitam a textura de um caderno de couro - fazendo alusão a um dos artefatos mais importantes de um caça-feitiço -, mas se me deixasse levar acabaria tornando esse post infinitamente maior. Por fim, o que posso dizer é: se você gosta de tramas simples mas bem construídas e interessantes, com uma leitura fácil e envolvente, esse autor é pra você.


          Confira também a Samy do Infinitos Livros falando de Lemony Snicket, a Cris do Leitores Forever falando de Neil Gaiman e a Mila do The Nerd Bubble falando do Tolkien. Quando a Mandinha do Expresso de Nárnia liberar o post sobre Rothfuss, eu edito aqui.


ERRATA: Como o Anderson Tiago, do INtocados, muito bem observou, Joseph também está trabalhando em mais duas séries. Eu já estava interessada em Arena 13, lançado em junho de 2015, mas não conhecia Starblade Chronicles, que aborda a vida do nosso amado Tom já como caça-feitiço. Lá fora o primeiro volume foi publicado, A New Darkness, e o segundo está previsto para 2016 sob o título The Dark Army. Ambos não foram lançados no Brasil. Para saber um pouco mais sobre cada uma das sagas, clique nas imagens correspondentes. 


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