Viver sem ler é perigoso.

Game of Thrones || O paradoxo temporal de Bran Stark


Hold the door!


Se detestei o episódio da semana passada de Game of Thrones, inclusive escrevi um post sobre que dividiu opiniões e rendeu alguns xingamentos Facebook adentro, The Door veio para redimir a HBO – pelo menos da decepção com o episódio anterior. Mesmo que como um todo não tenha sido excelente, valeu a pena só pelo núcleo de Bran. Arya, Sansa e Jon, as Ilhas de Ferro: tudo passou despercebido diante da importância do que assistimos hoje envolvendo o mais poderoso warg de que se tem conhecimento. Duas palavras: paradoxo temporal.
Para quem não sabe, paradoxo temporal é um fenômeno em que alguém viaja no tempo, mais precisamente ao passado, e acaba por interferir nos acontecimentos daquela época, de modo a criar um evento contraditório mas totalmente lógico. Você pode saber um pouquinho mais sobre os tipos de paradoxos existentes clicando aqui.


E então, o que aconteceu no episódio de hoje? Vamos focar no núcleo de Bran porque definitivamente foi o melhor da temporada até agora. A primeira visão que o Stark tem envolve da criação de um white walker, talvez o primeiro – e provavelmente o Rei da Noite. Os responsáveis? Os Filhos da Floresta. Uma delas, que está na caverna e foi a responsável por fincar a pedra (obsidiana?) no peito do homem no passado, diz que fizeram aquilo para se defender dos primeiros homens. Então os caminhantes brancos foram criados a partir de seres humanos para derrotarem seres humanos, mas em algum momento dessa linha temporal voltaram-se contra seus criadores e todas as coisas vivas de modo geral.

Em sua segunda visão no episódio, Bran vê o exército dos mortos-vivos e o próprio Rei da Noite em si, que toca em seu braço e ali deixa uma marca. Mesmo depois que acorda aos berros, os dedos da criatura estão bem visíveis. Bloodraven pergunta a Bran se ele foi tocado e, após desviar da pergunta, o garoto admite que sim. O vidente é categórico: não há escapatória para Bran agora que foi marcado. Chegou a hora do Stark assumir o posto do Bloodraven, ainda que não está pronto. Precisa fugir. 

Quando o episódio retorna mais uma vez para o núcleo de Bran, ele e Bloodraven estão no passado revisitando Winterfell. No presente, Meera tem o pressentimento de que algo está errado e corre para fora da caverna. Filhos da Floresta estão ali e, atônitos, todos observam o Rei da Noite e seu exército a perder de vista. Meera retorna para o interior da caverna e começa sua árdua e desesperada jornada de acordar Bran. Os Filhos da Floresta tentam atrasar o exército, acendendo um arco de fogo ao redor da entrada da caverna, mas não conseguem deter o Rei da Noite e seus três companheiros, que passam pelas chamas sem sofrer qualquer dano.
A luta acomete a caverna. Filhos da Floresta morrem e são mortos. Meera sacode Bran, Hodor está encolhido em um canto e apavorado, Summer dá o seu melhor para proteger o “dono”. Meera finalmente consegue se fazer ouvir, em gritos desumanos e desesperados, através da visão de Bran. E ali, tantos anos distante, o Stark ouve que precisa acordar e wargar Hodor.

O que acontece em seguida é: Bran não acorda (seu maior erro). Wyllis (Walder nos livros) está ali, anos mais novo, em sua visão. O Stark o encara e de alguma forma consegue wargar no Hodor do futuro. Então sim, o garoto está controlando o gigante do passado, lá de sua visão. Através de Hodor, Bran ergue o próprio corpo e junto com Meera e a Filha da Floresta, os quatro fogem pela caverna em direção a uma porta no final do túnel.
Summer fica para trás? Sim, com certeza. E desse modo nos restam apenas dois lobos, assumindo que Shaggy Dog realmente tenha sido morto. Foi a primeira vez que chorei assistindo Game of Thrones porque a cena em si já colabora para deixar você apreensivo, e então Summer, tão leal, fica para trás e tenta conter os mortos-vivos que querem matar o seu Bran. Ele é despedaçado e enquanto acompanha a fuga dos outros, você fica apenas com o ganido sofrido do lobo. Ah, o  Bloodraven é morto, obviamente, pois ele não tem como se mover e fica para trás. 

A Filha da Floresta também se sacrifica para atrasar os perseguidores, agindo como uma mulher-bomba, levando consigo dezenas deles que lotavam o túnel. Quando enfim alcançam a porta e conseguem sair, Meera prossegue na fuga arrastando Bran consigo. Hodor fica para trás segurando a porta. A última coisa por Meera, “Hold the door”, reflete tantos anos no passado, causando um trauma irreversível no jovem e saudável Wyllis.
Bran ainda está em sua visão quando a versão mais nova de Hodor cai e se contrai em espasmos enquanto repete “Hold the door” incessantemente. Tanto o faz que em determinados momentos podemos ouvir “Hodor”. O tempo todo, então, o gigante esteve reproduzindo a última frase que ouviria em vida. E a culpa de ele ser como é recai sobre as costas de Bran, que utilizou-se da figura de Hodor mais jovem para assumir controle do corpo dele no futuro. Paradoxo temporal. E uma demonstração do quão poderoso Bran Stark é – talvez possa vir a ser ainda mais.


Levando em conta essa poderosa influência que Bran tem em suas visões, permitindo inclusive que ele interaja com quem está no passado, a teoria recentemente difundida de que o Stark poderia ser o motivo do enlouquecimento do Rei Louco se torna perfeitamente plausível na série.
Aerys II Targaryen, o último da Casa Targaryen a se sentar no Trono de Ferro, foi o responsável por uma série de atrocidades durante o seu reinado, incluindo a morte de Rickard Stark e Brandon Stark, avô e tio de Bran, respectivamente. Poderia Bran ter tido alguma visão envolvendo o Rei Louco e, tendo consciência de sua capacidade de interagir com o passado, tentado convencê-lo a não matar ambos os Stark? Bran, ainda muito jovem e imaturo, pode ter causado não só a loucura do rei, mas também a morte de seus ascendentes, de certo modo. Afinal, não se dizia que Aerys ouvia muitos sussurros quando estava enlouquecendo? Não poderiam esses serem do próprio Bran?
The Mad King.
Enfim, essa foi uma teoria recentemente divulgada por um usuário do Reddit que pelo menos na série se tornou uma possibilidade. Um garoto sem qualquer responsabilidade e inconsciente do poder que detém nas mãos, através de suas visões, pode estar envolvido nos acontecimentos mais catastróficos de Westeros. Não sabemos se essa será uma linha adotada por George R. R. Martin nos livros, mas se for, eu não reclamarei.
Vamos fantasiar um pouquinho: será que Bran em algum momento voltará ao passado para impedir a si mesmo de fazer algo, como por exemplo obedecer a mãe? Isso estaria dentro do Paradoxo da Duplicação no link que mencionei lá em cima, quando o viajante retorna, encontra-se consigo mesmo e de algum modo impede que a sua versão do passado viaje no tempo, alterando a própria história e criando uma duplicata permanente...
Não sei se essa é a intenção de Martin, mas de repente nos vemos mesclando a fantasia medieval com uma vertente da ficção científica e eu estou achando isso genial. Com certeza é um spoiler dos livros. Não consigo imaginar outra mente criando um plot tão mindfuck quanto o Martin.
Agora dedico essa postagem a Summer e Hodor. Descansem em paz. Foram personagens que eu não sabia que adorava tanto até que morressem. Não consigo encontrar palavras para expressar o que eu sinto com o que aconteceu com o Hodor. Summer, cuja morte achei desnecessária, provou sua lealdade a Bran quando ficou para trás. Agora aguardemos os próximos capítulos. E acrescentemos mais dois personagens cuja morte nos afetou à listinha interminável e sofrível que todo fã de Game of Thrones e As Crônicas de Gelo e Fogo carrega consigo.




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