Viver sem ler é perigoso.

Resenha || Onde Cantam Os Pássaros: a instigante ficção contemporânea de Evie Wyld



  Título do Livro: Onde Cantam Os Pássaros
  Autor: Evie Wyld
  Editora/Tradução: DarkSide Books/Leandro Durazzo
  Páginas: 240
  Ano de Publicação: 2015
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  Livro cedido em parceria com a editora.
  

Sinopse No premiado romance de Evie Wyld, a fazendeira Jake Whyte leva uma vida simples numa ilha inglesa. Suas únicas companhias são rochedos, a chuva incessante, suas ovelhas e um cachorro, que atende pelo nome de Cão. Tendo escolhido a solidão por vontade própria, Jake precisa lidar com acontecimentos recentes que põem em dúvida o quanto ela realmente está sozinha – e o quanto estará segura. De tempos em tempos, uma de suas ovelhas aparece morta, o que pode ser muito bem obra das raposas que habitam a floresta próxima à sua fazenda. Ou de algo pior. Um menino perdido, um homem estranho, rumores sobre uma fera e fantasmas do seu próprio passado atormentam a vida de uma mulher que sonha com a redenção.

Sou louca por fantasia épica e estou acostumada a ler livros que fogem totalmente à nossa realidade. Imagino que você, leitor, seja como eu. Por isso não há surpresa alguma em admitir que, a princípio, Onde Cantam os Pássaros não me chamou muita atenção e ficou alguns meses abandonado na estante... Até que eu resolvi ler. Uau.
A premissa logo de cara não me soou muito interessante, mas a partir dessa experiência que tive com a obra de Evie Wyld aprendi a não julgar totalmente um livro pela sua sinopse. Contudo, em minha defesa, a história de uma fazendeira solitária cujas ovelhas começam a ser assassinadas misteriosamente não parece ser muito animada... Mas calma, jovem padawan. Não se precipite como eu. Vou já mudar a sua percepção sobre isso também.




Jake Whyte é uma mulher que se refugiou numa fazenda de ovelhas na costa inglesa após fugir da Austrália, seu país de origem e o lugar de suas piores recordações e traumas. Se houvesse um título de desgraçada/azarada da vida, ela com certeza ganharia. Desde a tragédia que provocou – e a marcou, inclusive fisicamente, para sempre – na Austrália até o momento em que o livro termina, sua vida é pontuada por uma série de acontecimentos desafortunados. De criança querendo impressionar o cara cool da escola até a fazendeira cujas ovelhas estão sendo destroçadas por uma criatura misteriosa, passando inclusive por prostituição e um regime de escravidão sexual com um velho nojento e sádico, eu ainda assim não consegui sentir pena de Jake porque se há uma coisa que o livro deixa bem claro pra gente, é o quanto ela é mais forte do que tudo isso.
Além da protagonista, você conhece também Don, o dono da fazenda em que ela está morando, um personagem bem simpático que provavelmente é uma figura que Jake vê como avô. Há também Otto, que eu desejei várias vezes que morresse junto com sua cadela (acho que foi a primeira vez que torci para que um animal de estimação se desse mal). O homem misterioso que aparece na fazenda de Jake, Lloyd, é aparentemente um cara legal, mas não sabemos muito sobre ele, então continua sendo misterioso. Por fim e não menos importante, temos o fiel companheiro de Jake, o cão Cão! Sim, esse é o nome dele e eu já o amo. 
O final do livro me deixou um pouco em dúvida, especialmente o último capítulo. Definitivamente foi deixado um gancho que possibilita uma continuação, mas ao mesmo tempo é perfeitamente possível que tiremos nossas próprias conclusões e a história se encerre aí... MAS EU PRECISO DE UM SEGUNDO LIVRO. Sério. Há mistérios sobre o passado de Jake ainda não resolvidos, e uma grande dúvida pairando sobre a insanidade de Otto – e até onde ela capaz de chegar. Além disso, como eu disse, Lloyd continua sendo misterioso. E quem está matando as ovelhas? Ou melhor: o quê as está matando?



      

Onde Cantam os Pássaros é uma ficção contemporânea premiada de Evie Wyld, e não sem motivo. Tem um quê de terror psicológico, especialmente nas cenas que envolvem o desprezível Otto e quando Jake se sente enclausurada dentro de seus problemas. Ela se isolou do mundo para tentar se proteger, mas assim como as feridas cicatrizadas em suas costas, o seu passado não desaparecerá e estará ali para lembrar-lhe todos os seus traumas.
A escrita de Evie Wyld é interessante, embora eu não destaque sua técnica como um ponto positivo para mim. Propositalmente ela alterna a narração entre o tempo verbal presente, quando está narrando o passado, e o tempo verbal passado, quando está narrando o presente. Pareceu confuso? Achei o mesmo. Além disso, seus flashbacks não seguem uma ordem linear e eu também levei um tempinho para me acostumar a isso. Ainda assim, sua escrita é singela e enervante ao mesmo tempo. Apesar de eu sentir dificuldade diante da narração de Evie, sei que essa leitura abriu portas para uma variedade de ficções contemporâneas semelhantes que ainda lerei. Acho que quando algo nos chama atenção, mesmo que não seja de modo positivo, e nos deixa um pouco surpresos, nada mais justo do que explorar um pouquinho mais – porque no fim das contas você pode acabar amando. E é assim que a gente expande nosso gosto literário.

Não tenho nem o que dizer sobre a personagem Jake Whyte. Ela foi brilhantemente construída com uma personalidade atual que é produto de tudo o que lhe aconteceu no passado. O mesmo digo sobre Lloyd: tudo bem que não sabemos tanto dele, mas foi um personagem bem estruturado dentro de sua aura misteriosa. Até Samson, o filho de Don que mal aparece no livro, chama atenção nesse sentido.
Peço a você que não deixe se levar pela sinopse do livro e lhe dê uma chance. Se você está acostumado a um gênero específico, que talvez não seja esse, será um desafio interessante. Tente ler. É uma experiência válida para ver se gosta de livros assim, e de quebra você ainda leva para casa uma narração brilhante, personagens bem estruturados e uma trama que é muito mais interessante do que parece. Bingo à minha decisão de ler essa maravilha!
Sobre a edição da DarkSide: as folhas são assim, negras na lateral. O espaçamento do parágrafo é bom e a leitura foi bem confortável, especialmente por conta da letra e do tamanho. Cada capítulo se inicia com a "logo" do livro e uma numeração. Os muitos animais, onipresentes no decorrer da história, são mencionados em seus nomes originais da Austrália/Inglaterra, por isso recebem notas de rodapé explicando o que são. A capa é tão curiosa e instigante quanto a obra em si, e decifrá-la é uma aventura à parte. 









     

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